Santa Sé! Mais um líder celestial nos deixou. A morte do Papa alcançou picos de audiência, como um bom reality show, algo que sua santidade em vida jamais sonhou. Jornais, portais e timelines vibraram em uníssono, com uma enxurrada de cliques e likes pela partida do santo padre
Fotos em preto e branco do pontífice começam a circular. Retrospectivas emocionadas surgem em diversos canais. Além disso, especialistas pipocam para nos lembrar de sua ‘importância’. Pequenos momentos são recortados e compartilhados para viralizar.
Convenhamos, a comoção é quase palpável, mas me pergunto: será que essa mesma legião de lamentadores saberia citar três encíclicas importantes do falecido? Alguém aí lembra de alguma iniciativa social de grande impacto liderada por ele, ou feitos fora das grandes telas?
Morte do Papa como um evento
Não me entendam mal, a morte é um evento marcante. Um portal para o mistério (ou para o nada, dependendo da sua crença e do seu nível de cinismo matinal). Contudo, a hipérbole midiática em torno do falecimento de uma figura como o Papa me soa, no mínimo, curiosa.
Durante anos, acompanhamos um líder com poder de influência global em questões cruciais, como direitos humanos e mudanças climáticas. No entanto, para a maioria, a ressonância de suas ações e palavras ficava restrita aos círculos religiosos ou a manchetes esparsas.
Finitude
De repente, a finitude terrena acende uma luz tão forte que ofusca toda a trajetória pregressa. É como se a biografia só ganhasse relevância no obituário. O que ele fez, o que defendeu, as controvérsias que inevitavelmente o cercaram… Tudo parece convergir para o instante derradeiro, como se a morte fosse o ápice de uma carreira.
Por outro lado, não seria mais inteligente dedicarmos essa mesma intensidade de holofotes para analisar o legado enquanto ele era construído? Discutir as políticas implementadas, os avanços (ou retrocessos) defendidos, o impacto real de suas decisões no mundo?
A morte é um fato. Inevitável, democrática (atinge ateus e fervorosos com a mesma precisão). Mas essa súbita beatificação midiática post-mortem levanta uma questão indigesta: será que valorizamos mais o drama do fim do que a substância da jornada? Será que a comoção passageira vende mais cliques do que a análise crítica do trabalho de uma vida inteira?
Complexidades
Enquanto a poeira cósmica (ou terrena, para os mais pragmáticos) assenta sobre o Vaticano, talvez seja um bom momento para refletirmos sobre os nossos próprios filtros de atenção. O que nos faz parar para prestar atenção? O espetáculo da perda ou a complexidade da existência?
Que o Papa descanse em paz. E que nós, os vivinhos da Silva, aprendamos a valorizar a floresta antes que a última árvore caia e vire manchete.
Em suma, espero que gostem do texto e que possamos seguir uma conversa sobre seja aqui ou nas redes sociais do Mundo do Ro.